segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Sete e o Luto


Dezenove de dezembro. Sete anos se passaram desde a morte do Noah e ainda não sei como cheguei até aqui. Como consegui sair daquele cemitério ainda é um enigma para mim. Como caminhei até 2021?

A verdade é que nunca houve outro caminho, a não ser seguir e enfrentar aquele enorme abismo que se abriu em minha frente após meu mundo ruir.

A gente não supera a morte de um filho. A gente sobrevive.

Engana-se quem acredita que o luto tem prazo de validade, com começo e fim, que segue um traço linear e previsível enquanto avança etapas.

O luto materno é perpétuo e ainda que passem anos desde o dia da despedida, continua pulsando ativa e dolorosamente.

Ele está presente no espaço vazio na mesa de jantar.

Na ausência do bolo de aniversário.

Na formatura da pré-escolinha que nunca existiu.

No álbum vazio e no cobertor herdado ainda sem uso.

No túmulo sem flores.

O luto perdura no medo constante de que algo aconteça com meu caçulinha.

No julgamento desnecessário.

Na solidão do irmão no parquinho.

No fracasso em perdoar meu corpo.

No soco no estômago que a realidade de um novo dia traz consigo.

Nos comentários desprovidos de empatia.

No desconforto de quem quis saber quantos filhos eu tenho.

No meu olhar desolado ao escutar que o meu filho mais novo precisa de um irmão.

O luto remanesce no esquecimento de quem um dia se importou.

No nome que já não é mais pronunciado.

Na ausência de carinho com a memória de quem partiu.


O luto está na saudade que eu sinto do Noah e é na tristeza que encontro a única forma tangível de ter meu filho por perto.


O amor é o que fica e, assim como o luto, é infindo. 


Foto tirada pelo vovô em uma das muitas visitas que ele costumava fazer ao cemitério.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Cinco

cinco o legado de noah



O dia é 29 de novembro de 2019. Imagino um pequeno corpinho, cabelos loiros, talvez com cachos, vindo em minha direção mostrando orgulhoso a mãozinha cheia de dedos.

- Completei uma mãozinha, mamãe! Já tenho 5 anos!
- Parabéns, meu amorzinho!! Isso mesmo, agora vamos começar a encher a outra mão!

A conversa seguiria com um abraço bem apertado, daqueles que curam todas as dores do passado e certamente seria interrompida pelo irmão, querendo aproveitar o embalo e abraçar também.

A casa seria uma bagunça, eu não teria tempo para nada e nosso café da manhã seria super animado,  cheio de comidinhas gostosas e gente feliz.

Este ano, Noah completaria 5 anos e assim começaria nosso dia, exceto pelo fato de que tal diálogo nunca vai acontecer, pertence apenas ao meu imaginário...

Em todos os momentos, imagino como seria se ele estivesse aqui... como cuidaria do irmão, como ensinaria a ele pequenos truques e brincadeiras divertidas... Sinto como se ele estivesse realmente pertinho e, de certa forma, sei que está, mas é tão difícil não poder vê-lo, tocá-lo e enchê-lo de beijos...

Por mais um ano, não teremos bolo nem brigadeiro para um pequeno aniversariante e tudo o que eu desejo é que ele realmente sinta como é amado e o quanto sentimos sua falta...

Vamos continuar seguindo nossa caminhada, sem nunca esquecer meu pequenino... Owen já sabe muito sobre Noah, desde que estava em meu ventre ele ouve histórias sobre o irmão e continuará ouvindo e disseminando o amor enquanto aprendemos juntos a ser irmão de anjo, assim como eu aprendo dia-a-dia a ser mãe de um.


Este ano, escolhi um texto novo para traduzir, sempre da Still Standing Magazine. Este texto me "perseguiu" o ano todo, coincidência ou não, ele apareceu em meu feed por inúmeras vezes e suas palavras me confortam nos momentos mais difíceis... espero que ajude alguma outra mãezinha de anjo que também esteja precisando ler estas palavras.


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Querida Mamãe: Uma Carta do Céu

Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)
Contato: aqui

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Querida mamãe,

Sei que tem sido difícil enfrentar os dias sem mim, lutando para entender minha morte.

Vejo você chorar antes de dormir todas as noites e em seu carro a caminho do trabalho.

Eu sinto muito.

Sinto muito por ter que partir tão cedo.

Eu não queria te deixar, mas por favor saiba que embora você não consiga me ver, nunca estou longe.

Aqueles arrepios que você sente quando está sozinha, sou eu te abraçando.

Ainda estou aqui.

Estou bem aqui.

Os lindos arco-íris que cruzam seu caminho. 

Sou eu dizendo 'Oi'.

As borboletas que voam ao seu redor. (o enxame de libélulas no dia do meu aniversário... obrigada, meu menino)

Sou eu te lembrando que não está sozinha.

Ainda estou aqui, mamãe.

Você nunca está sozinha – porque eu estou sempre com você.

Ainda que você não consiga me ver.

Estou aqui, mamãe.

Escuto você me dar boa noite ao adormecer todas as noites.

Você não pode me ouvir, mas eu sussurro ‘boa noite’ de volta.

Queria que você pudesse me ouvir dizer “eu te amo” todos os dias.

Eu te amo muito, mamãe.

Sei que você sente minha falta a cada suspiro.

Que todos os momentos felizes também são recheados com tristeza e dúvidas.

Você se pergunta como eu seria, como seria meu rosto, quem eu me tornaria.

Gostaria que você pudesse me ver agora.

Estou feliz.

Sou livre.

Quero que saiba que estou bem.

Estou em paz agora.

Sei que não é fácil enfrentar os dias.

Mas você segue em frente, me levando contigo a cada passo do caminho.

Obrigada, mamãe.

Sei que um dos seus maiores medos é que as pessoas se esqueçam de mim.

Eles não esqueceram.

Você mantém minha memória viva.

Você diz meu nome e conta minha história.

Eu vivo através de você.

Tenho muito orgulho de ter você como minha mamãe.

Você é tão corajosa, tão gentil, tão amorosa.

Embora nosso tempo juntos tenha sido curto, você sempre cuidou de mim.

Me protegeu.

Me amou.

Você é uma boa mamãe.

Não questione se eu sabia o quanto você me amava.

Eu sabia.

Ainda posso sentir seu amor.

Ele chega até mim aqui no céu.

Sei que há dias em que você acha que não consegue seguir em frente.

Dias em que você mal pode esperar para se juntar a mim, para poder me abraçar e me beijar mais uma vez.

Eu sei o quanto você espera por este dia mas, por favor, continue vivendo.

Eu quero que você viva, sorria, sinta alegria.

Você não precisa se sentir culpada quando está feliz.

Gosto de te ver sorrir.

Amo o som da sua risada.

Por favor, continue.

Continue me carregando com você em tudo o que faz.

Prometo que estou aqui.

Estou esperando por você aqui.

Sempre estarei com você, enviando meu amor até que você possa me abraçar de novo.

Eu vivo através de você.

Sou parte de você.

Eu te amo, mamãe.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Sobre o amor, a esperança e a coragem de buscar a felicidade

legado de noah

Dizem que o amor entre pai e filho é algo grandioso. Um sentimento sem precedentes, portanto, incomparável com qualquer outra forma de amor. 

É único.

Sempre ouvi este tipo de testemunho com certo grau de ceticismo – como pode haver algo mais forte do que sinto por meus pais? Por meu marido? Por minhas irmãs?

Até o dia em que fui presenteada por um tão desejado exame positivo de gravidez e ouvi pela primeira vez o coração do Noah bater. Aí, minha opinião começou a mudar.

Ter o privilégio de gerá-lo em meu ventre foi, para mim, a construção da mais pura e gentil forma de amor. Quando meu filhote nasceu, tão pequenino, eu finalmente entendi. 

E senti. 

E me rendi àquele amor que toma seu corpo e sua alma por inteiro e você se questiona: como pude viver até aqui sem ter conhecido este sentimento?

Compreendi que não era uma questão de intensidade, e sim um amor novo, que eu nunca havia experimentado. 

Era novo, belo, perfeito.

Quando meu Noah partiu, aos 20 dias de vida, me despedir daquele pequenino foi a tarefa mais difícil de minha vida, a despedida mais injusta que o universo pode impor a um pai – enterrar seu filho. 

Saber que falhou ao não ser capaz de proteger aquele pedacinho seu e junto dele despedir-se de seu futuro e tudo o que sonhou viver junto dele é cruel e dói na alma da gente.

Legado de Noah
“ Ter um bebê liberta um amor que seu coração nunca soube que estava faltando. Quando um bebê morre, liberta uma dor que sua alma nunca imaginou ser possível.” RaeAnn Frederickson


Assim como não consigo explicar o significado do amor que sentimos por um filho àqueles que não os têm, também é impossível explicar quão dolorosa é essa perda a quem nunca sentiu. Mas para qualquer um que ama, ou já amou, sabe como é difícil ficar longe, imagine despedir-se para sempre. 

E com o tempo, meu luto foi sendo vivido. Em meio a dias nebulosos, coração dolorido e muitas lágrimas, fui completamente tomada pela dor e pela tristeza, mas quando pensei que não seria mais capaz de nutrir nenhum outro sentimento em meu coração, sutilmente percebi que ainda havia uma sementinha plantada dentro de mim, que tentava florescer naquele terreno árido, um presente deixado pelo meu filho que nem a morte, o tempo ou a distância poderia apagar – o amor.

Ele ainda estava lá, mesmo que disfarçado de tristeza e saudade, ainda triunfava em meu coração e o legado de amor deixado pelo Noah ficava a cada dia mais claro. E é este amor que ele me ensina diariamente, que fez de mim mãe e talvez até um ser humano melhor.

A primeira lição foi aprendida com esmero, mas me negava a acreditar que em meu peito caberia mais daquele sentimento tão nobre... nos primeiros anos eu tinha a certeza que eu nunca mais amaria ninguém como amo meu Noah... embora muitos me dissessem o contrário, no meu entender, era inconcebível crer na possibilidade de dividir este amor pois, não seria capaz de amar o Noah nem um pouquinho menos.

E assim, durante quatro anos convivi com uma luta interna que me obrigava a seguir em frente enquanto eu não via razão para isso. 

Como voltar a sonhar novamente? 

Como explicar tudo isso às pessoas queridas que frequentemente me perguntavam sobre a possibilidade de uma nova gravidez? 

Eu seria capaz de dividir aquele amor?

Depois de muito conversar comigo mesma e com o Noah em pensamento, Rika e eu decidimos que era hora de dar uma nova chance à felicidade e nos jogamos nos braços da esperança. Sim, e deu muito medo, mas seguimos assim mesmo!

Nos cercamos de cuidados, mantivemos segredo e deixamos que o universo cuidasse do restante. 

Foi então que naquele dia 25 de maio, dois pequenos risquinhos no teste de farmácia trouxeram lágrimas aos meus olhos e fizeram meu coração transbordar daquele amor e  de esperança novamente.

Eu estava grávida, de 5 semanas - Noah estava prestes a ganhar um irmãozinho!!

Owen nasceu de parto normal dia 4/12/2018, com 2070g, prematurinho de 31 semanas. 

Fruto de muito amor e cuidados, meu pequeno guerreiro lutou junto com a gente e veio ao mundo depois de um repouso intenso desde o início da gestação (e parecia ser eterno), visitas ao pronto-socorro, sangramentos, medicações diárias, uma cirurgia e 30 dias de internação.

Mas graças a um querido obstetra, competente e zeloso, a um hospital preparado e a uma equipe dedicada e profissional, após 34 dias de UTI Neonatal, pudemos trazer nosso bebê esperança pra casa.

E agora, estou aprendendo a ser mãe de dois, carregando um filho nos braços e outro no coração, amando intensamente meus meninos com toda a força de meu ser.

Posso dizer com propriedade que o amor que um dia duvidei que existia é real e, de fato, ele não se divide, mas se multiplica.

Minha família jamais estará completa, mas hoje ela está um pouco mais inteira. Somos a prova de que um coração partido pode sim continuar a bater.

Owen, seja bem-vindo, amor da minha vida!  ❤




sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Uma História de Amor


uma história de amor legado de noah


Quando perder quem a gente tanto ama começa a virar uma triste rotina, me perco em meio à tanta tristeza e temo ser engolida por ela.

Escrever me ajuda a sair do fundo do poço, a organizar meus pensamentos e entender o que está acontecendo comigo.

Há tempos parei de perguntar por que tudo isso aconteceu, por que tantas despedidas em tão pouco tempo... hoje, começo a focar no que ganhei, em quem me tornei, onde quero chegar e como encontrarei forças para chegar lá.

E aqui, cabe um parênteses: por favor, não confunda este último comentário com a aceitação do famoso "tudo tem um lado bom". Para mim, esta continua sendo apenas uma frase pronta e vazia, utilizada nos momentos em que ficar quieto seria melhor. Não acredito que há algo de bom na morte de um filho.

Simplesmente não há.

É humanamente impossível enxergar o lado bom quando seu filho morre aos 20 dias de vida sem que você tenha tido a oportunidade de aninhá-lo em seu colo... ou quando seu pai dá seu último suspiro nos seus braços... ou ainda, quando seu filho peludo perde a vida após uma luta incansável contra uma doença dita benigna.  

Não há lado bom.  

O que acontece, na verdade, é a gente muda. Olha pra trás e nem consegue mais lembrar quem era, perde a referência e precisa se reinventar a cada tombo, a cada despedida. E quando você se dá conta, é a verdadeira metamorfose ambulante cantada por Raul.

Então, como posso manter o foco no que ganhei sendo que perdi tanto?

Confuso, mas ainda assim, possível.

Acho que ao ter o coração quebrado em pedaços tão pequenos, de novo e de novo, nossa alma fica exposta, porém, permeável. Embora doa, fui inundada por um amor que foi absorvido mais facilmente e me encharcou.

Minha forma de ver o mundo mudou, por isso, mudei também.

Minhas prioridades são diferentes, meu senso de urgência mudou, minha crença se transformou e até a maneira de lidar com meus problemas foi alterada pelo ‘novo eu’. 

A mudança não agrada a todos e houve uma grande seleção natural em minha vida. Alguns amigos se distanciaram, pessoas nos evitam, enfim, nem todo mundo gosta do meu ‘novo eu’... bem, talvez eles não precisem gostar.

Mas eu preciso e este também é um longo processo. 

Estou crescendo, aprendendo e amadurecendo. As lágrimas são de dor e saudade, mas também de amor... o mais puro amor.


Minha ferida mais exposta, a dor mais aguda no meu coração neste momento, a morte do Brutinhos, permitiu que eu conhecesse pessoas maravilhosas e por intermédio delas, do universo e do próprio Brutus, ‘caí no colo’ de uma querida terapeuta especialista em luto, a Joelma.

Com ela, compreendi algo que eu já sabia, mas ainda não entendia bem: amor e luto caminham juntos. Ela me mostrou que para entender o tamanho da dor é preciso entender o tamanho do amor pois, são igualmente proporcionais. Só sofremos porque amamos... pois é.

Aprendi também que luto não se compara, é individual, diferente de pessoa para pessoa.

Costumo dizer que sou  feita 100% de coração. Eu amo com muita intensidade e o resultado, acho que não preciso contar para vocês.

Em um bate-papo gostoso e acolhedor, Joelma me perguntou se eu deixaria de amar com tanta intensidade se soubesse de antemão que amar assim me faria sofrer tanto.

Nem.Por.Um.Segundo.

O amor é o melhor presente que o Noah, meu pai e o Brutus poderiam me dar.

Por eles, sigo em frente e dou um jeito de levantar a cada tombo, mesmo que demore. E às vezes demora... e muito...

Por eles eu choro, me desespero, e cada lágrima que escorre por meu rosto carrega dentro de si um amor pelo qual dor nenhuma, jamais, triunfará.

Só preciso me respeitar, acolher minha dor e transformá-la em algo bom - na hora certa.

Abaixo traduzi uma bela 'história de amor', texto escrito por DeAndrea Dare, mãezinha do anjo Max, que me inspirou e me fez perceber que não estou sozinha nesse mar de amor e dor...
            

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Uma História de Amor

Por DeAndrea Dare

Texto original em/Source: stillstandingmag.com/2017/09/a-story-of-love/
Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)
Contato: aqui

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Nunca imaginei que um amor como este fosse possível.

Um amor tão doído, que tirou o ar de dentro de meus pulmões e me preencheu com mais alegria que eu pudesse expressar.

Como poderia o amor ser tão crú, tão profundo, tão doloroso e ainda assim tão bonito e eterno?

Como poderia um menininho pesando menos que 3 libras (aproximadamente 1,3 kg) libertar um amor que  não me abandonaria e me levaria a uma vida que eu jamais pudesse imaginar?

Honestamente, ainda não entendo como esta é a minha vida.

Certos dias, eu paro e olho ao meu redor e penso como tudo aconteceu tão rápido, como nada é como eu esperava que fosse, como ainda dói tanto, o quanto eu ainda anseio por ele, e ainda, o tremendo orgulho que sinto por meu menininho e das formas com que sua vida está tocando e oferecendo esperança a outros. 

Eu faria qualquer coisa para mudar o curso da história dele. Para reescrevê-la sem os capítulos de morte, luto, dor e a realidade de que a vida às vezes toma rumos que você não somente não esperava, mas também jamais poderia imaginar, mesmo que tentasse.

Mas eu também faria tudo de novo para poder pegá-lo, tocá-lo, olhar para cada pequenina parte dele e sentir seus dedos ao redor do meu, ainda que fosse por apenas mais um minuto.

No fundo, eu sei que ainda que tivesse tido mais tempo, ainda assim, não teria sido suficiente. Eu desejaria mais. Eu sempre iria querer mais.

Nos dias sombrios após a morte dele, eu não sabia como seguir em frente e também pensei seriamente em não querer continuar.

Eu ouvia outros pais reclamando de noites sem dormir e crianças gritando. Eu teria vendido um órgão no mercado negro para ter experienciado isso com meu menininho.

Assisti na TV imagens de abusos e atrocidades cometidas contra crianças por seus próprios pais e pensei: porque eles puderam ter seu filhos, enquanto eu só podia me debruçar no túmulo do meu e imaginar como teria sido?

Eu me tornei nervosa com tudo, carreguei o peso de uma culpa sem fundamentos, era incapaz de manter o foco, não conseguia tomar nem as mais simples decisões.

Mas aquele amor... Aquele amor só cresceu e cresceu e cresceu. 

Finalmente me dei conta que ainda que estivesse mais louca do que nunca, eu estava vivendo e ele não, eu tinha que encontrar meu caminho.

E então, fiz a ele uma promessa. Uma promessa que ainda que eu não soubesse como, ainda que não quisesse, eu viveria por nós dois.

E então, aqui estou.

No começo foi difícil manter a promessa. A escuridão era espessa e sombria. Eu tentei e lutei e me esforcei para ser ‘eu’, seja lá o que isso queria dizer.

Quando você não consegue se olhar no espelho ou sentir nada que se assemelhe a você mesma, é difícil ser quem você sempre foi.

Eu não podia nem queria voltar a ser ‘aquele eu’ porque tudo era diferente agora.  Eu aprendi que tudo bem.

Às vezes as pessoas não gostavam disso. Alguns ainda não gostam. Mas eu segui aquele amor que ainda estava crescendo dentro de mim. Cometi alguns erros no caminho porque estava  aprendendo a lidar com os dias, as semanas, os meses. Estava fazendo o meu melhor, mas às vezes, para os outros, o melhor não era suficiente. 

Através das lutas e das dores, dos erros e das mudanças, a constante que permanecia e se fortalecia a cada segundo de cada dia era o amor que eu continuava compartilhando com meu filho.   

Dizer que minha vida mudou seria eufemismo. Relacionamentos mudaram, o trabalho mudou, a dinâmica da família foi alterada e tudo pareceu estar de cabeça para baixo por um bom tempo.

Mas o que emergiu destas nuvens escuras foi uma luz brilhante que me guiou a um amanhã o qual eu jamais poderia experimentar se eu não fosse a mãe de um menininho chamado Max. 

Hoje eu vejo o mundo de maneira diferente do que há quatro anos. A perspectiva e as lentes que uso para vê-lo, mudaram.

Sim, há muita dor e sofrimento neste mundo, mas há uma beleza que apenas um profundo amor duradouro pode revelar, que consertar pedaços destruídos e construir algo a partir dele vai além das palavras.

Para mim, nada disso teria acontecido se não fosse pelo Max.

Sim, eu gostaria que as coisas fossem diferentes e que ele estivesse aqui segurando minha mão, fazendo coisas que um menino de 4 anos faria, mas eu não trocaria por nada neste mundo a vida que eu compartilho com ele, pois, de alguma maneira, o amor dele me carrega e jamais me abandonará.

Eu sei que dói. Eu sei que esta não é a história de vida que você queria ou jamais tivesse sonhado que pudesse acontecer com você.

Mas nós sentimos a dor e o sofrimento porque nós amamos tão profundamente.

Deixe este amor crescer.

Deixe este amor te guiar.

Deixe que o amor que você continua compartilhando com seu filho ilumine este mundo.

O amor é infinito, eterno.

O amor sempre continua.

A história de seu filho não acabou.

A história de meu Max não acabou.

Nossa história continua.

Esta é uma história de amor que nunca vai acabar. 


Quem é DeANDREA Dare

DeAndrea é esposa, mãe de três lindos filhos, fundadora e diretora executiva do A Memory Grows, uma organização não governamental que fica em Fort Worth no Texas, que oferece refúgio e eventos para pais que estão sofrendo com a morte de seus filhos.


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Quando mais um filho se vai...

  

Domingo foi Dia dos Pais... o primeiro sem meu pai aqui na Terra e eu já imaginava que seria um dia difícil, repleto de amor e saudade...

O que eu não poderia imaginar é que seria um dia de despedida... domingo pela manhã, Deus levou meu filho peludo... Brutinhos se foi e com ele levou mais um pedaço do meu coração...



Quem nunca teve um filho peludo não pode mensurar o tamanho do amor que sentimos por esses seres... Brutus viveu comigo por 10 anos, 8 meses, 16 dias e algumas horas... juntos, formamos uma família, dividimos as mesmas casas, a mesma cama, as mesmas histórias... nos separamos por tão poucas vezes que dá até para contar nos dedos da mão...



Meu filhote foi um professor magnífico, me ensinou o real significado do amor, cuidado e dedicação, sem pedir nada em troca... a gente se entendia com um olhar e ele foi o mais mimado dos cãezinhos, tenho certeza...


Dono de um gênio difícil (assim como eu) e uma inteligência impressionante, minha avó costumava dizer que ele só não falava para não ter que trabalhar...



Fui muito mais do que sua ‘tutora’, meu Brutinhos me ensinou a ser mãe, a abdicar de coisas para mim se fosse preciso, a priorizar uma vida antes da minha... me fez olhar com compaixão à vida dos outros animais, me ensinou que havia dor e sentimento por trás do olhar de cada ser vivo e me tornei vegetariana por causa dele...



Esteve ao meu lado durante a gravidez, foi o último a ser fotografado com minha pancinha de Noah... 



Me ajudou a sobreviver à morte do Noah, respeitou meus momentos de silêncio e tristeza, repousando sua carinha linda no meu colo sempre que queria me confortar... 


Quando precisei de uma mão, encontrei sua pata. 
Por tantas vezes ele foi flagrado brincando sozinho no quarto vazio do irmão que havia partido tão cedo... uma das cenas mais lindas que já vi na vida... a certeza de que eles se enxergavam e que estavam ao meu lado de alguma maneira...





Brutus era um cãozinho feliz, muito sapeca, de temperamento forte e personalidade única, vivia no colo, ganhava carinho e petiscos da família toda e quando adoeceu... o mundo ruiu sob nossos pés, mas NUNCA desistimos...



Investimos tempo, dinheiro, amor, cuidados, orações, noites em claro... tudo para salvar a vida do nosso toquinho... 




Nossa jornada parecia ser infinita, busquei pelo que eu acreditava ser o melhor para ele e em nosso caminho encontramos inúmeros profissionais...

Alguns, fizeram o minimamente necessário...

Outros, aceitaram nosso dinheiro nem nunca nos olhar nos olhos...

Também tiveram aqueles que nos jogaram pra ‘frente’ como batata quente, não se esforçaram para nos ajudar sendo incapazes de enxergar o Brutus além de sua doença e não tiveram a coragem de mudar o tratamento quando ainda era tempo... testemunharam a piora do nosso pequenino sem fazer nada... 

Como diz minha mãe, ninguém dá o que não tem. É inútil pedir amor, compaixão e empatia de pessoas vazias, claramente desprovidas de tais sentimentos... Sinto por ter depositado tanta confiança nesses profissionais, no entanto, espero que seus corações sejam um pouco mais aquecidos após conhecer o Brutus.



Ainda assim, diante de tanta dor e luta, encontramos profissionais que realmente fizeram a diferença... lutaram ao nosso lado, acarinharam nosso pequeno durante um exame, acompanharam nossa trajetória de perto, vibraram com nossas vitórias e hoje choram comigo a despedida prematura do nosso guerreiro.





A estes profissionais e amigos, toda a minha gratidão e carinho.


Hoje meu filho de quatro patas não está mais aqui... desejo que quando ele acordar lá no céu, seja recebido com todo amor pelo vovôzinho que ele tanto amava e pelo irmão que ele não teve a chance de conhecer nesse mundo.



Por aqui, a casa está mais vazia, mais silenciosa... sua comidinha ainda está no armário, os remédios na gaveta e ainda não tenho forças para jogar fora o resto da sopinha que ele comeu no sábado com tanta vontade... sua roupinha dorme comigo e peço a Deus que me permita encontrar com ele nos sonhos...  



Sei que ele está bem. Levou com ele um pedaço grande do meu coração. Será recebido com muita festa e vai continuar olhando por mim lá de cima.

Me ensinou muito, foi amado, cuidado e mimado por toda a sua vidinha, juntos escrevemos uma linda história de amor, respeito e companheirismo...

Vai em paz meu amorzinho, meu filho, meu best friend, meu guerreiro... mamãe ama você com todo o coração dela... e por favor, cumpra com o nosso combinado e beije muito seu vovô, vovó, irmãozinho e todos aqueles que certamente te recepcionarão na sua chegada ao paraíso.